Quatro pediatras respondem perguntas
cruciais e explicam por que ninguém precisa temer essa fase das cólicas.
Entender o que acontece pode acalmar você e a criança
Ver o bebê com o rosto vermelho de tanto chorar, as pernas encolhidas e
os dedinhos crispados - sinais típicos de que a razão da dor são as
cólicas - é um espetáculo que nenhum pai quer presenciar. O grande
alento é que as cólicas desaparecem no terceiro mês de vida, quase tão
misteriosamente quanto chegaram, e não deixam nenhuma seqüela. Também é
verdade que pais que lidam com a situação com tranqüilidade têm o dom de
acalmar o bebê. Portanto, arme-se com as informações que colhemos com
quatro consultores e aprenda a distinguir o que é mito e o que é
verdade.
1. Por que o recém-nascido tem cólica?
Ainda há muitos pontos obscuros sobre esse assunto. Não existe, por
exemplo, uma causa exata. As cólicas são atribuídas à associação de
alguns fatores, entre eles a imaturidade dos sistemas gastrintestinal e
nervoso central, que, entre outras funções, controla as contrações do
intestino. Como o processo de formação e funcionamento desses mecanismos
ainda não está completo, ocorrem movimentos intestinais descoordenados
que acabam provocando as dores. Passados três meses, esses sistemas
adquirem maturidade e as cólicas deixam de fazer parte da rotina da
família.
2. Por que algumas crianças têm cólicas e outras estão livres delas?
Cada indivíduo é único no que diz respeito a fatores genéticos e
biológicos, o que explica parte da questão. A outra parte diz respeito
ao ambiente. Embora não haja dados científicos sobre o assunto, os
pediatras concordam que a atitude dos pais conta pontos. "A criança
percebe tudo a sua volta, inclusive a tensão e a ansiedade dos pais",
explica o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). "A reação a esses estímulos externos pode ser a
cólica." Tanto isso é verdade que, para o pediatra Ruy Pupo Filho, autor
do Manual do Bebê (editora Campus Elsevier), a cólica é quase sempre
uma característica do primeiro filho - o segundo costuma ter bem menos e
o terceiro quase não tem. Excesso de agitação, como som e TV altos ou
brincadeiras prolongadas, também pode desencadear ou turbinar as
cólicas. Respeito ao ritmo e ao sono do bebê é fundamental.
3. Como saber se o choro é mesmo devido à crise de cólica?
Primeiro, por eliminação: o bebê está com fome? A fralda está molhada?
Está com calor? Com frio? Se essas possibilidades foram descartadas e o
choro continua, é grande a probabilidade de ser cólica. Além disso, há
algumas características específicas: o bebê se contorce, o rosto fica
vermelho e com expressão de dor, as mãos se fecham e o choro estridente
parece inconsolável. Em muitos casos, as crises costumam acontecer no
mesmo horário - à tardinha ou no início da noite.
4. Se o bebê mama no peito, a alimentação da mãe pode fazer diferença na presença e na intensidade das cólicas?
"Há pouca relação comprovada entre a cólica e a alimentação da mãe",
afirma o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp). "O único alimento que sabidamente aumenta as
cólicas do bebê se ingerido pela mãe é o leite de vaca, mas só se ela
tiver alergia à proteína do leite de vaca ou intolerância à lactose." É
possível que a mulher tenha esses problemas e não saiba, ou apenas
descubra durante a amamentação, quando, em geral, por ordem médica,
aumenta o consumo de leite e derivados.
5. Bebê que toma fórmula industrializada tem mais cólica do que o que é alimentado no seio materno?
Não há consenso sobre a questão. Para o nutrólogo Mauro Fisberg, a
incidência é muito semelhante nos dois casos. "O que pode fazer
diferença é que, se a amamentação for bem orientada, o bebê que mama no
seio engolirá menos ar do que aquele alimentado por mamadeira e,
conseqüentemente, terá menos cólicas", observa. Já o pediatra Ruy Pupo
Filho acrescenta: "O leite materno é mais bem absorvido pelo organismo,
além de conter elementos que contribuem para o amadurecimento rápido do
intestino das crianças", afirma. "Com isso, a incidência de cólicas é
menor em recém-nascidos que mamam no peito."
6. Quais as formas mais eficazes de combate a essa dor?
A primeira recomendação (por mais que pareça difícil) é manter a calma.
"É preciso quebrar o círculo vicioso que se estabelece: a criança tem
cólica, os pais ficam nervosos, o bebê sente mais dor, gerando ansiedade
crescente nos pais e assim sucessivamente", diz a pediatra Lílian dos
Santos Sadeck, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, ligado à
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). "O que mais
funciona é o pediatra conversar bastante com o casal, passando
tranqüilidade e mostrando que se trata de uma questão puramente
fisiológica, não de uma doença." Mas, se mesmo assim a crise vem, que
medidas tomar? "Fazer massagens circulares na barriguinha e aquecê-la
com bolsa térmica ou flexionar e estender as perninhas, fazendo
bicicleta, ajuda", recomenda. "O contato pele com pele também tem efeito
relaxante e calmante", orienta Ruy Pupo. "A mãe ou o pai devem deixar o
bebê só de fralda e colocá-lo em contato com o corpo deles." Remédios,
apenas com recomendação médica.
7. Chás e funchicória realmente funcionam?
Há pediatras que admitem o uso desses recursos, outros que não
recomendam, portanto converse com o seu antes de decidir. "Não há
comprovação da eficácia, mas em alguns casos parecem trazer alívio", diz
Lílian Sadeck. Se a criança mama no peito, o chá, de camomila ou
erva-doce, deve ser oferecido na colherzinha e nunca na mamadeira, para
não interferir na amamentação. A quantidade também deve ser pequena.
"Algo com cerca de 10 mililitros", aconselha a médica.
8. É verdade que enrolar o bebê em um cueiro ajuda a aliviar as cólicas?
O método das nossas avós de enrolar o bebê em um cueiro como maneira de
acalmá-lo voltou à moda. A técnica pode até ajudar, por fazer com que
ele se sinta mais protegido - afinal, simula o ambiente "apertadinho",
porém familiar, do útero nos últimos dois meses da gravidez. Mas o colo
da mãe pode ter o mesmo efeito de aconchego e segurança, sem restringir
tanto os movimentos do pequeno.
9. Bebê que não arrota depois de mamar terá mais cólica em seguida?
Se o bebê engolir ar durante a mamada e não arrotar, pode haver
formação de gases e, conseqüentemente, cólicas. Mas não significa que
ele deva arrotar sempre que mama - não é regra que em toda mamada ele
engula ar, principalmente se a pega do seio for correta, com a boca do
bebê cobrindo a maior parte da aréola e o lábio inferior virado para
baixo, formando um beicinho. Se a criança se alimenta com mamadeira,
mantenha o bico sempre cheio de leite.
10. Durante a crise de cólica, algumas mães tentam amamentar para acalmar o bebê. É correto dar de mamar nessa hora?
Sugar tem efeito calmante e pode ajudar, sim. Mas, se ele mamou faz
pouco tempo, costuma não ser uma alternativa adequada. "Nessa situação, o
seio não terá mais tanto leite e há risco de a criança engolir ar,
formando gases. Consegue-se, assim, o efeito contrário: aumentar
bastante a cólica", explica Lílian Sadeck.
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